[DALLAS] Ruas
2 participantes
Yasmin Blanc L'Amarc
Yasmin Blanc L'Amarc
02 de Setembro às 07h16
02 de Setembro às 07h16
A tempestade da noite anterior deixara mazelas nas ruas, cujas estradas de areia e pedras soltas estavam agora compostas de pequenos mas vários buracos repletos de água e lama. Os céus, escurecidos pelas nuvens pintadas de um cinzento negro viam-se presenteados pela luz solar fraca e esmorecida.
A minha mente há muito que se tinha desviado do tema central da minha ida à cidade e o único som que ainda era audível em meus tímpanos era o dos cascos do meu cavalo, trotando ao lado da égua branca de Anne.
— Gostaria que Emilie tivesse vindo connosco. — A minha irmã mais nova comentou, alcançando com uma das mãos as rédeas do meu cavalo. — Mas gostaria ainda mais de saber no que estás a pensar.
Virei o rosto para Anne, observando a expressão tranquila na face delicada. Os cabelos loiros emolduravam o rosto, dando-lhe uma aparência ainda mais doce que o normal, completa pelo vestido azul-bebê, com o corpete costurado à mão com pequenas pérolas.
— Nada, na verdade. — Sorri suavemente, pousando a minha mão direita coberta com a luva por cima da sua. — Acho que é esse tempo, minha cabeça enche-se de devaneios.
Anne soltou uma risada graciosa, estreitando os belos olhos numa expressão que deixava claro que sabia exactamente quais os devaneios a que me referia. Levantei uma das mãos e movimentei-a em frente ao rosto com displicência, mostrando-lhe o meu melhor sorriso. Era inútil manter um diálogo sobre este assunto, especialmente agora que era exactamente isso, um devaneio.
Alguns segundos mais tarde, já podia ver a estrutura de madeira do Saloon, onde Sophia nos esperava à entrada. Usava um vestido vermelho-vinho simples e justo à cintura; os cabelos escuros caíam sobre os ombros e os lábios delineavam-se num sorriso divertido ao ver-nos descer dos cavalos.
— Diriam que és uma forasteira, se não te admirassem a face tão frequentemente, Yasmin. — Brincou, apontando o dedo indicador para as minhas roupas.
Tinha as calças justas de pele castanha-escura e as botas de montar calçadas, a blusa era de seda e lisa, tapada ligeiramente pelo casaco quente, mas um pouco menos chamativo que os vestidos habituais. Os meus cachos estavam presos numa trança que caía sobre o ombro direito.
— Ia montar, shh. — Ri um pouco, encolhendo os ombros com manha. — Anne pediu-me que a acompanhasse à cidade, porque mamãe adoeceu e não consegue levantar-se da cama.
— Não a deixei trocar-se. — Anne riu, mostrando a ponta da língua enquanto caminhava para Sophia.
Rolei os olhos levemente e ri suavemente, alisando a crina do meu cavalo, enquanto as duas se abraçavam e minha irmã sorria feliz, matando saudades de Sophia. Aproximei-me das duas, tomando o meu lugar a abraçar minha amiga, depositando um beijo em sua bochecha. A empregada do saloon segurou-nos as mãos e puxou-os ao interior do espaço ainda fechado aos restantes habitantes, fechando as portas atrás de si.
— A cidade está um alvoroço desde que começaram estas tempestades. — Sophia confessou com um suspiro, sentando-se numa das cadeiras.
— Ouvi que já começaram os novos saques. — Comentei, mordendo o canto dos lábios.
— Papai comentou ontem que são novos forasteiros, ninguém os viu exactamente. — Anne encolheu os ombros, sentando-se também. — Estão furiosos.
— Não estão a recrutar novos policiais? A mulher do Xerife comentou comigo há alguns dias.
Sophia levantou as sobrancelhas e sorriu cúmplice, apoiando o queixo na mão. Não houve resposta à minha pergunta, porque obviamente ninguém sabia ao certo o que estava a ser feito e também porque nenhuma de nós estava interessada em manter o ambiente soturno que aquele tema causava. Distraímos entre conversas aleatórias, soltando risadas despreocupadas sobre assuntos que nos pesavam na mente. Havia, afinal, a necessidade de tirar-lhes a importância de algum modo. Mesmo que por míseros segundos.
Quando demos conta, já era hora de abrir o estabelecimento e Sophia foi obrigada a levantar-se e abrir as portas apressadamente. Não passaram nem dois minutos para que uma série de viajantes entrassem afobados, desejando álcool nas veias para poderem continuar a sua jornada. Virei-me a Anne, tomando um gole da minha água, enquanto lhe indicava com o olhar para se manter direita e indiferente. Ser filha do Banqueiro não era fácil, especialmente após atingirmos a idade em que o nosso pai praticamente nos colocava a prémio para arranjar um bom marido.
— Ignora os comentários. — Sussurrei, rolando os olhos a um cortejo.
— Sim. — Ela concordou com a cabeça.
Pareceu querer continuar a falar, mas fechou a boca à entrada de dois homens altos e entroncados, que falavam um com o outro tão descontraidamente que pareciam não notar em metade das pessoas por quem passavam. O que parecia ser o mais velho sentou-se num banco perto do balcão, sorrindo de canto a Sophia enquanto fazia o seu pedido, mas o outro — com os olhos verdes que pareceram perfurar a todos — fez uma vénia a Anne, que imediatamente corou.
Segurei o riso à imagem de ambos, porque era bonito ver a minha irmã sorrindo daquele modo tão encantado pelo gesto genuíno do homem, mas também à figura de Sophia que, mantendo a pose desinteressada, ainda conversava com o outro.
Passei uma mão nos cabelos e fechei os olhos, soltando o ar pelos lábios entreabertos. Demorei a voltar a abrir os olhos, preguiçosa e um pouco cansada, mesmo que ainda fosse o começo do dia. Tombei a cabeça para o lado, batendo os olhos na figura alta de um homem que se encontrava de pé a conversar com o Xerife e o filho do dono do Saloon; parecia-me incrivelmente familiar mas igualmente irreconhecível. No entanto, um movimento natural, em que desviou os cabelos que lhe caíam longos um pouco acima dos ombros causou-me uma inquietação descomunal no peito.
O filho do dono do Saloon levantou uma das mãos, rindo largamente, e o Xerife abriu um sorriso largo. Os meus olhos pareciam desfocar as imagens, para manter a atenção apenas no homem que faltava. Não tinha a mesma expressão de menino, a pele não era tão lisa como antes e estava agora escurecida pela barba que o deixava com um ar adulto e mais forte. Parecia mais alto, mais forte e mais distante, de sorriso não tão fácil, mas mais charmoso. Os olhos, no entanto, eram exactamente como eu me recordava.
Não foi preciso dizer nada para perceber que os meus pequenos “devaneios” continuavam tão vivos quanto antes. Uma sensação gelada percorreu a minha espinha e sentir o estômago embrulhantes.
— Ed. — Murmurei para mim mesma, desviando o olhar.
— Hum? — Minha irmã interrogou, calma, interrompendo o que me dizia.
— Nada. Pode repetir?
— Kristin chegou, devemos pedir-lhe que visite mamãe?
— Sim, claro. — Sorri, mais tranquila. — Ela saberá mais que nós. — Completei, acenando para chamar a dona do hotel da cidade.
A minha mente há muito que se tinha desviado do tema central da minha ida à cidade e o único som que ainda era audível em meus tímpanos era o dos cascos do meu cavalo, trotando ao lado da égua branca de Anne.
— Gostaria que Emilie tivesse vindo connosco. — A minha irmã mais nova comentou, alcançando com uma das mãos as rédeas do meu cavalo. — Mas gostaria ainda mais de saber no que estás a pensar.
Virei o rosto para Anne, observando a expressão tranquila na face delicada. Os cabelos loiros emolduravam o rosto, dando-lhe uma aparência ainda mais doce que o normal, completa pelo vestido azul-bebê, com o corpete costurado à mão com pequenas pérolas.
— Nada, na verdade. — Sorri suavemente, pousando a minha mão direita coberta com a luva por cima da sua. — Acho que é esse tempo, minha cabeça enche-se de devaneios.
Anne soltou uma risada graciosa, estreitando os belos olhos numa expressão que deixava claro que sabia exactamente quais os devaneios a que me referia. Levantei uma das mãos e movimentei-a em frente ao rosto com displicência, mostrando-lhe o meu melhor sorriso. Era inútil manter um diálogo sobre este assunto, especialmente agora que era exactamente isso, um devaneio.
Alguns segundos mais tarde, já podia ver a estrutura de madeira do Saloon, onde Sophia nos esperava à entrada. Usava um vestido vermelho-vinho simples e justo à cintura; os cabelos escuros caíam sobre os ombros e os lábios delineavam-se num sorriso divertido ao ver-nos descer dos cavalos.
— Diriam que és uma forasteira, se não te admirassem a face tão frequentemente, Yasmin. — Brincou, apontando o dedo indicador para as minhas roupas.
Tinha as calças justas de pele castanha-escura e as botas de montar calçadas, a blusa era de seda e lisa, tapada ligeiramente pelo casaco quente, mas um pouco menos chamativo que os vestidos habituais. Os meus cachos estavam presos numa trança que caía sobre o ombro direito.
— Ia montar, shh. — Ri um pouco, encolhendo os ombros com manha. — Anne pediu-me que a acompanhasse à cidade, porque mamãe adoeceu e não consegue levantar-se da cama.
— Não a deixei trocar-se. — Anne riu, mostrando a ponta da língua enquanto caminhava para Sophia.
Rolei os olhos levemente e ri suavemente, alisando a crina do meu cavalo, enquanto as duas se abraçavam e minha irmã sorria feliz, matando saudades de Sophia. Aproximei-me das duas, tomando o meu lugar a abraçar minha amiga, depositando um beijo em sua bochecha. A empregada do saloon segurou-nos as mãos e puxou-os ao interior do espaço ainda fechado aos restantes habitantes, fechando as portas atrás de si.
— A cidade está um alvoroço desde que começaram estas tempestades. — Sophia confessou com um suspiro, sentando-se numa das cadeiras.
— Ouvi que já começaram os novos saques. — Comentei, mordendo o canto dos lábios.
— Papai comentou ontem que são novos forasteiros, ninguém os viu exactamente. — Anne encolheu os ombros, sentando-se também. — Estão furiosos.
— Não estão a recrutar novos policiais? A mulher do Xerife comentou comigo há alguns dias.
Sophia levantou as sobrancelhas e sorriu cúmplice, apoiando o queixo na mão. Não houve resposta à minha pergunta, porque obviamente ninguém sabia ao certo o que estava a ser feito e também porque nenhuma de nós estava interessada em manter o ambiente soturno que aquele tema causava. Distraímos entre conversas aleatórias, soltando risadas despreocupadas sobre assuntos que nos pesavam na mente. Havia, afinal, a necessidade de tirar-lhes a importância de algum modo. Mesmo que por míseros segundos.
Quando demos conta, já era hora de abrir o estabelecimento e Sophia foi obrigada a levantar-se e abrir as portas apressadamente. Não passaram nem dois minutos para que uma série de viajantes entrassem afobados, desejando álcool nas veias para poderem continuar a sua jornada. Virei-me a Anne, tomando um gole da minha água, enquanto lhe indicava com o olhar para se manter direita e indiferente. Ser filha do Banqueiro não era fácil, especialmente após atingirmos a idade em que o nosso pai praticamente nos colocava a prémio para arranjar um bom marido.
— Ignora os comentários. — Sussurrei, rolando os olhos a um cortejo.
— Sim. — Ela concordou com a cabeça.
Pareceu querer continuar a falar, mas fechou a boca à entrada de dois homens altos e entroncados, que falavam um com o outro tão descontraidamente que pareciam não notar em metade das pessoas por quem passavam. O que parecia ser o mais velho sentou-se num banco perto do balcão, sorrindo de canto a Sophia enquanto fazia o seu pedido, mas o outro — com os olhos verdes que pareceram perfurar a todos — fez uma vénia a Anne, que imediatamente corou.
Segurei o riso à imagem de ambos, porque era bonito ver a minha irmã sorrindo daquele modo tão encantado pelo gesto genuíno do homem, mas também à figura de Sophia que, mantendo a pose desinteressada, ainda conversava com o outro.
Passei uma mão nos cabelos e fechei os olhos, soltando o ar pelos lábios entreabertos. Demorei a voltar a abrir os olhos, preguiçosa e um pouco cansada, mesmo que ainda fosse o começo do dia. Tombei a cabeça para o lado, batendo os olhos na figura alta de um homem que se encontrava de pé a conversar com o Xerife e o filho do dono do Saloon; parecia-me incrivelmente familiar mas igualmente irreconhecível. No entanto, um movimento natural, em que desviou os cabelos que lhe caíam longos um pouco acima dos ombros causou-me uma inquietação descomunal no peito.
O filho do dono do Saloon levantou uma das mãos, rindo largamente, e o Xerife abriu um sorriso largo. Os meus olhos pareciam desfocar as imagens, para manter a atenção apenas no homem que faltava. Não tinha a mesma expressão de menino, a pele não era tão lisa como antes e estava agora escurecida pela barba que o deixava com um ar adulto e mais forte. Parecia mais alto, mais forte e mais distante, de sorriso não tão fácil, mas mais charmoso. Os olhos, no entanto, eram exactamente como eu me recordava.
Não foi preciso dizer nada para perceber que os meus pequenos “devaneios” continuavam tão vivos quanto antes. Uma sensação gelada percorreu a minha espinha e sentir o estômago embrulhantes.
— Ed. — Murmurei para mim mesma, desviando o olhar.
— Hum? — Minha irmã interrogou, calma, interrompendo o que me dizia.
— Nada. Pode repetir?
— Kristin chegou, devemos pedir-lhe que visite mamãe?
— Sim, claro. — Sorri, mais tranquila. — Ela saberá mais que nós. — Completei, acenando para chamar a dona do hotel da cidade.
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